As lentes de contato são usadas para corrigir problemas da visão e indicadas para quem não deseja usar óculos ou fazer uma cirurgia de correção, dependendo do caso. Atualmente existem lentes de contato de diversos materiais, sendo elas rígidas ou gelatinosas, de uso diário, semanal, mensal e até mesmo anual. É importante lembrar que para cada pessoa existe uma lente específica e cada problema demanda uma lente com características e recomendações muito particulares.
Dra. Cristiane Bernardes, médica oftalmologista da Santa Casa, explica que o acompanhamento médico é fundamental antes de optar por utilizar lentes de contato, caso contrário, com uma indicação errada e cuidados incorretos, elas podem piorar a visão e até causar problemas gravíssimos com possibilidades catastróficas. “O uso das lentes traz vários benefícios, mas precisa de cuidado para saber se a pessoa pode ou não as usar. Para isso é preciso buscar orientações de um médico capacitado a fim de fazer esse tipo de adaptação. Essa adaptação é um ato médico, e que precisa ser exclusivo para cada caso. Não se pode ir na ótica e comprar uma lente de acordo com aquilo que a pessoa achar conveniente. Nesses casos os riscos são bem sérios”, comenta a médica.
Só o médico oftalmologista pode fazer os exames adequados e indicar qual o melhor tratamento. Por conta da facilidade em se adquirir lentes de contato em óticas ou por meio de sites, muitas pessoas acabam se esquecendo dos cuidados que devem ser tomados ao adquiri-las e isso pode acarretar sérios problemas.
Para quem já usa lentes de contato, mesmo que sejam recomendadas, um dos principais cuidados que devem ser tomados é em relação à limpeza. O produto para essa assepsia deve garantir limpeza, remoção de proteínas e desinfecção das lentes, sendo importante o acompanhamento médico, pois cada tipo de lente precisa de um produto específico. “Nem todos os pacientes que possuem um problema nas vistas podem usar lentes de contato, mesmo os que recebem essa indicação precisam levar a sério o número de horas, o tempo e o armazenamento, que mudam de acordo com as características da lente que será utilizada”, explicou a médica.
O uso de lentes é um tratamento que deve ser levado à risca, com um acompanhamento contínuo e rigoroso. Cada passo deve ser seguido corretamente, pois o não cumprimento deles expõe o paciente há inúmeros problemas como: irritações, inflamações e até casos mais graves como de infecções que podem levar à perda do globo ocular, caso são sejam controladas. As doenças e complicações ocasionadas pelo mau uso das lentes de contato são cada vez mais frequentes, e desde o início deste ano o serviço de Oftalmologia já atendeu quatro pacientes com lesões oculares graves.
Beatriz de Souza Cunha, 31 anos, precisou fazer um transplante de córnea por conta de uma lesão grave que teve após uma inflamação. Ela passou parte da sua vida usando lentes de contato, pois os óculos a incomodavam por conta do alto grau corretivo e, durante uma viagem, aconteceu um incidente. “Eu fiquei o percurso da viagem inteira de lente, fiquei horas com elas e até dormi com elas, mas durante o sono devo ter coçado os olhos. Quando acordei, comecei a sentir uma irritação no lado esquerdo, pensei que fosse conjuntivite, mas como estava em viagem não consegui ir até uma unidade de saúde para verificar, foi então que paramos em uma farmácia para comprar um soro e fazer a higienização”, lembra a paciente.
A claridade e o contato causavam uma dor insuportável e durante esse período ela ficou praticamente cega desse olho. Voltando à cidade, ela procurou imediatamente uma unidade de saúde que a encaminhou para a Santa Casa e, passados três dias de internação, ela realizou o transplante. “A infecção foi por uma bactéria e ela foi tão forte que perfurou a minha córnea e perdi a visão, não tive escolha, precisei do transplante. Aprendi com isso que todo cuidado é pouco diante dos riscos que corremos”, disse Beatriz.
Outro caso atendido pela equipe foi da dona de casa Cristiane do Patrocínio, 48 anos. Seu envolvimento está sendo corrigido sem intervenção cirúrgica, porém é o mais grave dos quatro registrados neste ano. Ela começou usando uma lente de grau por problemas na vista diagnosticados com médico. Ela adquiriu uma lente com correção abaixo do que lhe era indicada, depois adquiriu uma outra lente, dessa vez colorida.
Depois de um longo tempo de uso e fazendo parte de sua rotina, ela passou a trabalhar e fazer as atividades domésticas com a lente. No início do mês de março seu olho começou a incomodar e a partir daí não voltou mais ao normal. “Minha família tinha pego conjuntivite recentemente e eu pensei que fosse o mesmo. A cada dia eu sentia mais dores até que meu olho fechou. Fui ao médico e ele me receitou um colírio para conjuntivite, mas parecia como pimenta nos olhos”, contou a paciente.
A essa altura a inflamação já tinha tomado conta do olho direito da paciente e, voltando ao médico, ela recebeu um encaminhamento para tratar no serviço de Oftalmologia da Santa Casa, e quando chegou o diagnóstico não foi dos melhores. “Começou no olho direito e em pouco tempo passou para o esquerdo. Nesse momento eu pensei que ficaria cega; estava muito triste. O protozoário era muito forte e inteligente; ele se protegia do colírio e depois atacava meus olhos.”
Para a dona de casa o tratamento tem sido à base de colírios que impedem a atuação desse protozoário. Ela teve a complicação nos olhos e sua expectativa de tratamento é para meses. “A Cristiane adquiriu um protozoário muito resistente, o Acanthamoeba. Ele é encontrado em água, terra úmida e outros meios, e deve ter sido contraído durante os serviços domésticos. É preciso muito cuidado, pois lentes mal indicadas deixam as pessoas vulneráveis a inúmeras doenças oculares”, conclui a médica.