Diferente do que muitos pensam sobre ele, o AVC (acidente vascular cerebral) é indolor e na maioria dos casos apresenta sintomas que parecem inofensivos ou até mesmo justificáveis. Os sintomas variam da dificuldade de falar ou de entender as coisas, perda do movimento de alguma parte do corpo, desvio da face até a visão dupla. Entre outros, esses sintomas podem indicar um AVC e é preciso dirigir-se rapidamente a uma unidade hospitalar.
O médico neurologista da Santa Casa Dr. Gabriel Braga, especialista em doenças cerebrovasculares, é quem explica sobre a doença. “Ela é uma doença neurológica que consiste na perda de função em uma determinada parte do cérebro por falta de uma adequada nutrição ou oxigenação dessa área. Pode acontecer por conta de duas ocorrências: uma delas é o entupimento de uma artéria e outra quando a artéria se rompe, levando à formação de um coágulo no cérebro e comprometendo a irrigação e oxigenação da área”, explica o neurologista.
Muitos são os questionamentos, e eles podem dificultar os diagnósticos. Desculpas como “estou com uma dormência no braço, mas deve ser porque dormi em cima dele” são frequentemente formuladas pelas vítimas do acidente vascular cerebral que não identificam adequadamente a gravidade ou o sintoma da doença. “Esse comportamento acaba atrasando a investigação da doença e diminuindo a chance de eficiência do tratamento. É importante saber que esses casos são emergências médicas”, afirma o médico.
Antes do AVC propriamente dito, alguns casos dão um alerta chamado ataque isquêmico transitório, que é quando o déficit neurológico se instala e pode regredir em menos de uma hora. Pessoas que já experimentaram um déficit como esse devem aproveitar a oportunidade de ouro que tiveram e procurar um médico para fazer a investigação e evitar que a doença se instale de forma mais agressiva, expondo-as a sequelas mais graves.
Segundo o médico, em média, a cada seis segundos uma pessoa no mundo morre em decorrência de um AVC. Até o ano de 2012, o acidente vascular cerebral era considerado a principal morte entre brasileiros; atualmente ele ocupa a terceira posição, perdendo apenas para as causas externas como acidentes gerais e homicídios, que são o segundo colocado, e em primeiro estão as doenças das artérias coronárias. Mesmo com a diminuição de mortalidade registrada em todo o país por causa da doença, o AVC ainda é uma doença com grande impacto social, levando-se em conta que as sequelas ocasionadas são quase sempre irreversíveis.
“Damos o título de doença de grande morbidade por conta das inúmeras sequelas que ela deixa nos sobreviventes. Na maioria dos casos, eles não conseguem voltar ao trabalho, ter uma vida produtiva e, consequentemente, demandam cuidados exclusivos de familiares. Isso acaba desestruturando não somente a vida do paciente, mas também a de toda a família na qual ele está inserido”, disse o médico. Ainda de acordo com o neurologista, segundo as estatísticas médicas, cerca de 70% das pessoas que sofreram um AVC não conseguem retornar ao trabalho.
Um diagnóstico muito eficiente e prático é utilizado para detectar a doença, chama- se FAST – do inglês face (rosto), arms (braços), speech (fala) e time (tempo). Consiste em pedir para que a pessoa sorria, levante ambos os braços, diga uma frase, e observa-se se há um aspecto de sorriso “torto”, um braço diferente do outro ou a fala arrastada e lenta; nessas situações é preciso chamar imediatamente uma ambulância e buscar o atendimento médico.
Cidadãos do sexo masculino, com idade avançada, características raciais como latinos, asiáticos e afrodescendentes estão em uma categoria de maior risco de acometimento da doença. As mulheres possuem fatores de risco próprios, como o uso de anticoncepcionais, terapia de reposição hormonal e a gravidez. Aproximadamente 30 gestações a cada 100 mil são complicadas com um AVC.
Já a prevenção está ligada aos chamados fatores de risco modificáveis, como pressão arterial, tabagismo, tratamento adequado da doença cardíaca de fibrilação atrial, atividades físicas, combate ao sedentarismo e o controle do diabetes.