Durante a solenidade em comemoração aos 102 anos da ABCG- Santa Casa na última sexta-feira (16), em que o prédio da Unidade de Traumatologia recebeu o nome de Bernardo Franco Baís por ter sido um dos fundadores da instituição, a bisneta, Thaís Barbosa Martins, fez uso da palavra e aproveitou para resumir a história de vida do homenageado.
Segue discurso na íntegra:
Vamos contar um pouco da história de Bernardo Franco Baís: Era italiano, nasceu em Luca, na Toscana, em 1861, e chegou a Mato Grosso em 1879, aos 18 anos de idade.
Ele abriu uma casa de comércio no então arraial de Campo Grande, e se tornou conhecido e respeitado. Em 1880, foi indicado e assumiu as funções de juiz de paz. Gostava da atividade de juiz de paz, tocava flauta nos casamentos que realizava. Em 1902, foi eleito o primeiro intendente da Vila de Campo Grande, cargo que não aceitou por ser estrangeiro.
Casou-se com Amélia Alexandrina, menina de 14 anos, filha de um português chamado Manuel Joaquim de Carvalho, fazendeiro em Coxim.
— Vovó foi dada em noivado a ele quando tinha mais ou menos 12 anos. Ele deu a ela uma boneca de presente de noivado, isso foi o que contou minha prima, Maura Barbosa de Oliveira, história que ouviu de sua mãe, Célia Barbosa. Casaram-se por volta de 1890, e tiveram nove filhos. Seus filhos foram Júlio, Orpheu, Bernardo, Amélio, Ida, Celina, Lydia e Aydano.
Bernardo, quando começou suas atividades comerciais, punha as mercadorias sobre o lombo de burros ou em cima de carretas, e então percorria os arredores de Campo Grande e ia mascateando até Coxim, e por toda região da Vacaria.
Os fazendeiros que vinham a Campo Grande hospedavam-se na sua casa e na volta enchiam carretas de mercadorias na casa comercial de “Seo Baís”.
Bernardo comprava mercadorias no Paraguai e na Europa. Ia para o Paraguai em comitiva, levando carretas carregadas de produtos da terra: fubá, farinha, polvilho, peles e couros curtidos, juntamente com uma boiada. Saíam de Campo Grande, iam até Conceição e de lá, até Assunção, de onde voltavam trazendo tecidos, louças, sal, ferragens, armarinhos e uma variedade grande de mercadorias.
Depois que se casou, Baís levava Amélia em suas viagens a Assunção. Ao longo do tempo Bernardo tornou-se um forte fazendeiro e um grande comerciante. Mandou suas filhas estudarem em Assunção no Paraguai, em São Paulo e no Rio de Janeiro. Dois de seus filhos chegaram a estudar em Londres e na Suíça, outros dois se formaram em Agronomia, em Piracicaba, e Engenharia, no Rio de Janeiro. Diziam na família que, em Londres, os meninos foram colegas de turma do príncipe de Gales.
Entre 1913 e 1918, Bernardo construiu o sobradão, a Morada dos Baís, na esquina da Avenida Afonso Pena com a Avenida Noroeste, onde a família morou até 1938, quando “Seo Baís” morreu.
Nas fotos que tenho de Bernardo, vejo um homem de estatura pequena, rosto redondo, cabelos castanhos, pele clara, olhos azuis, bigodes fartos, olhar determinado, misterioso. Usava terno escuro, colarinho engomado, bengala.
Os seus negócios estenderam-se a Corumbá. Ele e seus sócios trouxeram da Europa um pequeno navio para transportar mercadorias. Tiveram sucesso e formaram empresa importadora e exportadora, que chegou a ter uma frota de três rebocadores, nove chatas e um navio. Construíram um casarão luxuoso a beira do Rio Paraguai, onde instalaram a Casa Baís Wanderley e Companhia, um dos maiores estabelecimentos comerciais da época.
Contavam na família que, quando viajava para o exterior, ele carregava consigo uma mala preta, dizem que cheia de libras, marcos e cheques. Os filhos acreditavam que ele tivesse dinheiro depositado em bancos de Buenos Aires e na Europa. A mala desapareceu quando de sua morte acidental, e por falta das informações necessárias, o dinheiro que estava depositado nos bancos e as propriedades na Europa foram perdidos. Mesmo assim, deixou a seus descendentes muitos tesouros, um deles, a Fazenda Pontezinha, da qual eu herdei uma pequena parte.
Em meu nome e dos bisnetos que aqui vieram, receba, vovô Baís, o nosso muito-obrigado e a nossa homenagem. Convido os bisnetos de Bernardo Franco Baís a integrarem e ajudarem a divulgar a campanha do dízimo que a Santa Casa acabou de lançar, para que ela possa enfrentar as dificuldades que vem atravessando.
Conte comigo Santa Casa.
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