Foi realizado na última terça-feira (14) um procedimento pioneiro em Mato Grosso do Sul, a Rizotomia Dorsal Seletiva foi conduzida pela equipe do Serviço de Neurocirurgia da Santa Casa de Campo Grande em um paciente vítima de acidente automobilístico, e que há três anos convivia com espasticidade, uma rigidez muscular severa que o impedia de fazer as mais simples atividades laborais e pessoais. A cirurgia oferecida pelo SUS, é decorrente da pactuação entre a Santa Casa e prefeitura de Campo Grande para realização de cirurgias ambulatoriais.
Com sequela de paralisia das pernas. O quadro do paciente se tornou mais complicado após meses do acidente, quando além de não conseguir mais se mexer, os membros desenvolveram um estado de contração involuntária e mantida, com as coxas e joelhos flexionados. As contrações também ocasionam dor importante ao paciente, principalmente à mobilização dos membros.
O tratamento da espasticidade faz parte do montante de intervenções realizadas pela neurocirurgia funcional, e o caso em questão do paciente de 35 anos era um caso bem complexo, conforme afirma o Dr. Newton Moreira, um dos neurocirurgiões responsáveis pelo procedimento. “A Rizotomia Dorsal Seletiva traz relaxamento muscular, e assim proporciona uma melhora na qualidade de vida do paciente. Ele ainda deve passar por novas intervenções pela equipe da ortopedia por conta da rigidez e deformidade dos membros para liberações dos tendões que ajudará também na questão motora”, disse o neurocirurgião.
O neurocirurgião, Dr. Wolnei Zeviani, que acompanhou o paciente de forma mais próxima no ambulatório, explicou que o quadro é compatível com espasticidade pós-traumática, pelo fato de também se tratar de uma lesão do sistema nervoso central, ou seja, encéfalo ou medula espinhal. “Nossos músculos têm neurônios sensitivos com a função de informar quão contraído está a fibra muscular. Quando há estiramento muscular acontece essa contração muscular involuntária, e esse efeito é inibido pelo encéfalo. Com a lesão do sistema nervoso central, há um descontrole, o que leva a postura de contração mantida dos membros, como neste caso que operamos”, destacou Wolnei.
A cirurgia é feita no fim da medula espinhal, região do cone medular. E exige treinamento e coesão de todos os envolvidos, na anestesia geral especial, sem utilizar medicamentos relaxantes musculares, na colocação de agulhas musculares e esfincterianas. Depois desse processo, o paciente é colocado na posição que expõe a região da coluna lombar alta, local onde é feita incisão da vértebra chamada laminotomia até chegar no fim da medula espinhal e raízes lombares, chamada cauda equina. Com utilização de um probe, para monitorização neurofisiológica, é estimulada cada raiz no intuito de identificar as radículas sensitivas, e assim fazer secção parcialmente delas, isso para reduzir a estimulação da contração reflexa, sem causar fraqueza ou perda de sensibilidade nos membros.
Um importante fator que influenciou positivamente no resultado do procedimento foi a monitorização intraoperatória feita pela neurofisiologia clínica, Drª Nathália Cristaldo. Investimento da Santa Casa de Campo Grande para garantir que tudo ocorresse de acordo com a proposta internacional da Rizotomia Dorsal Seletiva. Além disso, essa monitorização impede que complicações como incontinência fecal ou piora da função motora nos casos onde a perda não é completa aconteça.
Rizotomia Dorsal Seletiva
O procedimento neurocirúrgico é relativamente recente, a técnica iniciada na América do Norte em meados dos anos 80, e desenvolvida em outros países posteriormente. Ela consiste na redução da estimulação sensitiva periférica através da secção parcial das raízes dorsais dos nervos espinhais. Sendo o único tratamento capaz de reduzir a espasticidade, e por isso, tem eficácia superior ao uso de toxina botulínica quando é necessário um relaxamento muscular amplo e permanente nestes pacientes.
“Muitos poderiam se beneficiar com o procedimento, o que limita é a falta de conhecimento e acesso a um serviço que tenha especialista em neurocirurgia funcional ou entender que existe tratamento cirúrgico para essa patologia. Além do mais, essa técnica é bastante comum em outros centros do país em crianças com paralisia cerebral, mas muito frequente em traumas causados à medula espinhal que ocasionam danos neurológicos. Esse procedimento é pioneiro aqui no Estado”, explica Dr. Newton.
Situação atual
Além da cirurgia de Rizotomia Dorsal Seletiva, o paciente será acompanhado pela ortopedia para procedimento que o ajudará a manter o membro na sua posição neutra. Wolnei também comenta ainda que a evolução do caso já é perceptível, e que “o paciente e familiares estão contentes com o procedimento, pois houve uma melhora significativa dos tônus musculares nos membros. Além disso, ele permanece internado, e está em programação de realização de uma nova intervenção cirúrgica, mas desta vez pela equipe de ortopedia, pois devido ao longo tempo em contração, houve encurtamento dos tendões musculares, que impede o membro de voltar à posição neutra”, disse o neurocirurgião.
O médico também esclarece que a cirurgia não tem objetivo de retornar a força e movimento nos membros, mas reforça a melhora na qualidade de vida do paciente. "O procedimento é indicado para quem tem lesão cerebral ou medular que mantenham a posição de contração dos membros, sendo frequentemente utilizado em crianças com paralisia cerebral. A cirurgia não tem como objetivo o retorno da força nos membros, porém, principalmente nas crianças, é possível que com o relaxamento da contração, aprendam a andar com uso de órteses", finaliza Wolnei.
O paciente recebeu alta médica e hospitalar neste domingo (19), e seguirá a partir de agora em acompanhamento de outras especialidades, dentre elas a ortopedia.
Equipe técnica
Além dos médicos já citados na matéria, a cirurgia também contou com o importante residente em Neurocirurgia Dr. Danilo Horta, médicos anestesistas, equipe de enfermagem e instrumentadora cirúrgico. Ação que envolveu uma grande equipe de prossionais especializados para que o procedimento acontecesse.
Por ASCOM Santa Casa de Campo Grande – 20/12/2021