Após dois meses projetando e criando dispositivos que pudessem contribuir com a evolução motora dos pacientes internados na Santa Casa de Campo Grande, Adão Santos Moreira, que atua há mais de 20 anos como terapeuta ocupacional no hospital, recebeu um novo desafio da equipe médica para desenvolver uma órtese estática que ajudasse a reduzir os impactos dos calcanhares daqueles que possuem problemas vasculares, em especial os diabéticos.
Percebendo a necessidade de intervir e reduzir os índices de feridas calcâneas, a médica cirurgiã vascular Dra. Juliana Luft pediu para que fosse desenvolvido um novo dispositivo que atendesse à demanda de pacientes graves. “Nós temos muitos pacientes idosos com restrição de mobilidade e acamados, e uma das coisas que podem acontecer são as úlceras de pressão, feridas causadas pelo longo período de tempo em uma mesma posição. Existem alguns protetores que são comprados, porém não são acessíveis a boa parte dos familiares por conta do custo. Foi então que, em um de nossos encontros nos corredores, fiz este pedido ao Adão”, comenta a médica.
As úlceras de pressão, em sua maioria, podem ter um desfecho ruim quando não recebem intervenção e prevenção rapidamente, levando, em alguns casos, à amputação de membros. Diante do histórico negativo, o terapeuta ocupacional iniciou o processo de pesquisa e testes de aparelhos para contribuir na recuperação e evitar possíveis ulceras nesses pacientes. Foram dias de testes com os dispositivos até chegar ao modelo que está em uso no hospital. “A órtese foi desenvolvida para que os usuários pudessem ter melhor qualidade de vida durante e depois do seu período de internação. E já estão dando bons resultados”, completa Adão.
Os dispositivos são práticos, simples, feitos de espuma e podem ser indicados para todos os pacientes passíveis de escaras e demais lesões, não necessariamente vasculares. Como protocolo, são realizadas mudanças de posição constantemente, colchões de ar e órteses são usados como método preventivo de formação de úlcera, diminuindo assim o tempo de internação desses pacientes e desfechos negativos. “Durante o processo de produção busquei fazer algo que facilitasse, também, para a equipe assistencial com a utilização, algo que fosse de fácil manuseio. Assim como os demais dispositivos, estes também são gratuitos e ficam à disposição da família”, explicou Adão.
As peças são únicas, feitas sob medida e indicação e, além disso, de acordo com a necessidade de cada paciente. Com elas tem sido possível atender a demanda da equipe médica e assistencial, contribuindo com a diminuição de escaras calcâneas. A fisioterapeuta do hospital Tânia Conceição Conte, que realiza a manutenção das órteses, comenta que elas têm sido muito úteis como complemento dos protocolos que influenciam na recuperação dos pacientes. “Os nossos pacientes, em sua maioria, são diabéticos e com outras morbidades que diminuem muito o fluxo sanguíneo, por isso que as órteses são necessárias. Com a pressão do membro sobre as camas, por conta do longo período, ocorrem as lesões; a órtese não permite que aconteça, e isso influencia não somente na sua recuperação, mas também na redução de possíveis infecções”, afirma fisioterapeuta.
Até o momento, o terapeuta ocupacional já confeccionou e entregou 38 órteses em dois meses de execução do novo dispositivo. A intenção é atender os demais setores como CTI geral, Clínica Médica, Neurologia, entre outros, brevemente.